Arquivo da categoria: Infecções em atenção primária

Novos conceitos em infecções urinárias complicadas

O Guideline da European Urology Association é um dos mais completos sobre infecção C_Diff_Infectionurinária, e o que traz de mais importante é a organização da informação nas infecções complicadas. Estas infecções são frequente mal definidas, e cada autor ou médico costuma definir de forma particular (infecções em imunodeprimidos, em pacientes graves, acompanhada de sepse, na presença de fator modificável, bactéria resistente, etc.).

Na verdade uma definição completa e aplicável do que seja uma infecção urinária complicada é impossível. Por isto, nesta recomendação, a Sociedade Europeia de Urologia prefere orientar que se procure os fatores complicantes, e para cada grupo, diagnósticos e condutas são particularizados.

Os critérios para esta avaliação são:

  1. Apresentação clínica
  2. Gravidade
  3. Fatores de risco ORENUC
  4. Resistência da bactéria

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Corticosteroides para sinusite

Artigo: Systemic Corticosteroid Therapy for Acute Sinusitis

Autores:Roderick P. Venekamp,  Matthew J. Thompson,   Maroeska M, Rovers

Latbocal: Holanda

Fonte:JAMA 2015 Volume 313, Number 12: 1259

Estudo: Este artigo, uma pequena sinopse, é a meta-análise avaliando o uso de corticoides no tratamento da sinusite  bacteriana aguda. Foram incluídos estudos onde o uso de antibióticos foi comparado com o uso de corticoides associados aos antibióticos. O desfecho foi a melhora/resolução em duas semanas ou menos, comparado com mais do que duas semanas para melhora/resolução.

Resultados: 947 pacientes foram analisados, a partir de cinco estudos. Os resultados apresentados são sucintos, uma vez que a publicação é Continuar lendo

Valor clínico das culturas de secreção vaginal


Artigo
: Value of bacterial culture of vaginal swabs in diagnosis of vaginal infections

Autores: Dane Nenadić, Miloš D. Pavlović

orange-petri-dish-with-pink-and-green-bacterial-colonies-mdLocal:  Eslovênia

Fonte: Vojnosanit Pregl 2015; 72(6): 523–528

O estudo:  Os autores coletaram swabs vaginais e secreções de 505 gestantes assintomáticas entre a 24a. e 28a. semana de gestação. Compararam com testes mais rápidos: microscopia de fluido vaginal (VFWMM), pH vaginal e teste do KOH a 10%.

Os autores definiram vaginose bacteriana como aquelas que possuíam à microscopia predomínio de pequenas formas bacterianas (SBF), comparado com a quantidade de lactobacilos, sem aumento de polimorfonucleares e pH>4,5 ou KOH positivo. Isto independente de sintomas. A presença de KOH positivo evidenciando fungos e aumento de polimorfonucleares  garantiu diagnóstico de candidíase.

Resultados:  469 apresentaram cultura negativa. Das 36 positivas, 24 possuíam os demais testes negativos e foram consideradas assintomáticas. 12 apresentaram microscopia, Continuar lendo

Hepatites agudas: que exames solicitar?

5171As hepatites agudas são doenças frequentes, na maioria das vezes benignas, mas que podem ser manifestação de outra doença sistêmica ou apresentarem gravidade. Curiosamente, vemos com frequência a solicitação de um grande número de marcadores desnecessariamente.

Alguns conceitos podem ser marcados:

  1. O estado vacinal sempre deve ser pesquisado, pois imunização prévia diminui risco da etiologia específica.
  2. História clínica (incluindo aspectos epidemiológicos) e exame físico detalhado devem ser pesquisados, buscando manifestações sistêmicas e possibilidade de doenças alternativas às hepatites virais clássicas. Por exemplo: mialgias, que podem sugerir leptospirose, sintomas urinários, que podem sugerir hepatite transinfecciosas, linfadenomegalia generalizada, comum em citomegalovirose, sem contar a epidemiologia para febre amarela e leptospirose.
  3. Transaminases em níveis<4 vezes o normal são inespecíficos e podem sugerir um número de diagnósticos mais amplos. Transaminases com níveis superiores a estes, em especial superiores a 500 estão maios associados às hepatites virais agudas e eventualmente à toxicidade medicamentosa.
  4. A pesquisa de vírus causadores de hepatite aguda deve incluir, de acordo com epidemiologia, pesquisa do vírus A (IgM anti-HAV), vírus B (HBsAg e anti-HBcAg IgM) e eventualmente sorologia para hepatite C. O anti-HBcAg IgM pode ser solicitado num segundo momento. Anti-HBsAg num primeiro momento poucas vezes será útil. HBeAg e anti-HBeAg não são exames para diagnóstico da infecção. Cabe lembrar que de acordo com a epidemiologia, pode ser solicitada a pesquisa de um ou mais vírus, não obrigatoriamente dos três.
  5. Em épocas de maior ocorrência de doenças veiculadas pela água, como hepatite A e leptospirose, muitas vezes a CPK ajuda a diferenciar as duas doenças, quando o quadro clínico não é claro.

O guideline prático da Washington State Clinical Laboratory Advisory Council apresenta fluxograma simplificado, que auxilia a conduta.

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Pneumonia adquirida na comunidade e inibidores de bomba

Artigo:  Risk of Community-Acquired Pneumonia with Outpatient Proton-Pump Inhibitor Therapy: A Systematic Review and Meta-Analysis

Autores:  Allison A. Lambert, Jennifer O. Lam e mais

Local:  Universidad Peruana Cayetano Heredia e Johns Hopkins University

FontePLoS ONE 10(6): e0128004.

O estudo:  Os autores realizaram análise sistemática e meta-análise, procurando descobrir se há associação em uso domiciliar de inibidores de bomba e desenvolvimento de pneumonia adqurida na comunidade (PAC).

Resultados:  33 estudos foram selecionados, mas somente 26 utilizados na análise. Apesar da heterogeneidade percebida, os estudos mostraram um RR de 1,49 (1,16-1,92) nos pacientes que utilizavam inibidores de bomba. A análise de subgrupos não mostrou diferenças de ocorrência de PAC com dose do IP, tempo de tratamento ou idade do paciente.

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Comentários:O estudo parece Continuar lendo

Infecções associadas a animais domésticos

dog_kissing_-2-600x400Os animais domésticos estão cada vez mais dentro da vida das pessoas. Não só numa função utilitária, mas afetiva. Existe uma nova ética na relação entre homens e animais. Uma nova mentalidade. Independente das grandes evoluções que esta relação comporta, uma maior integração do ser humano com seu ambiente, é importante a análise de alguns aspectos que surgem como efeito colateral desta nova forma de relação.

Cães e gatos não são seres humanos, têm necessidades específicas e, o que nos interessa neste momento, apresentam uma ecologia diferente dos seres humanos. Carregam uma microbiota própria à qual estão habituados e que não necessariamente se adapta da mesma forma ao ecossistema humano. Ao humanizarmos os animais, incorporarmos nossos hábitos e intimidades à rotina destes animais, estamos nos expondo (e expondo aos animais) a uma quebra de paradigma evolucionária, microbiológica. Existem riscos associados à forma com que estamos lidando com os animais?

Infecções tradicionalmente associadas aos animais domésticos

Alguns riscos são conhecidos, entre eles o de doenças hoje controláveis através de imunização (ex. raiva, leptospirose), aquelas cujos cães são hospedeiros (ex. leishmaniose) e principalmente mordeduras e arranhaduras.

Mordeduras – Os animais, tanto cães quanto gatos, apresentam uma microbiota oral diferente dos humanos. Eles podem carrar a Pastereulla multocida, uma bactéria particularmente agressiva para seres humanos. Os riscos de infecção são elevados, e a profilaxia é recomendada de acordo com critérios definidos. Entre estes critérios estão: Continuar lendo

Vitaminas e infecções

As vitaminas são um grande mito moderno, parte do imaginário da população. Acredita-se no poder das vitaminas como um purificador, um detox, um restaurador de energias e das defesas.Produtos naturais,  sem toxicidade, desprovidos de interesses econômicos.

vitaminsNada é tão simples. As vitaminas estão no centro mais duro da medicina alopática. Elas representam o processo bioquímico que facilita a vida celular. Sua deficiência significa uma gênese de doença. Esta é a visão da medicina ocidental, científica, baseada em processos celulares e bioquímicos.

A suplementação também é parte deste processo. Os suplementos são substâncias sintetizadas artificialmente, concentradas para garantir uma superdosagem. Comercializadas por grandes fabricantes. Além disto, a superdosagem eventualmente pode estar associada a eventos adversos. A superdosagem de vitamina C pode aumentar o risco de desenvolvimento de cálculos urinários. A reposição de vitaminas processadas industrialmente é qualquer coisa menos medicina natural.

Mas a real pergunta, a que interessa, é: a suplementação realmente funciona? Nesta página, por diversas vezes este assunto foi abordado. Agora é a vez de compreender o papel dos polivitamínicos.

Suplementação e deficiência vitamínica

Numa importante revisão sistemática publicada em 2006, o AHRQ (Agency for Healthcare Research and Quality), entidade oficial americana,  mostrou que os multivitamínicos Continuar lendo

Vitamina C e cama

Artigo: Vitamin C for preventing and treating the common cold

Autores:  Harri Hemilä, Elizabeth Chalker e Cochrane Acute Respiratory Infections Group

Local:  Cochrane

Fonte:  Cochrane Databasis, 2013

O estudo:  Revisão sistemática sobre uso profilático ou terapêutico da vitamina C e seu vitaminsimpacto no desenvolvimento e duração de resfriados.

Resultados: Foram analisadas 29 publicações (n=11.306). Resultados observados:

– Prevenção de resfriados, tanto na população geral (RR = 0,97 [intervalo de confiança de 95% [IC95%] = 0,94 a 1,00]. Houve benefício para maratonistas, esquiadores e soldados (RR = 0,48 [IC95% = 0,35 a 0,64], tamanho amostral substancialmente menor).

– Houve uma pequena redução na duração do resfriado, redução de 8% em adultos e 3% em crianças. O impacto diminuto desta redução numa doença de curtíssima duração merece ser considerado. Não há evidência de redução Continuar lendo

Febre de origem indeterminada e marcadores inflamatórios

Artigo: Relationships between Causes of Fever of Unknown Origin and Inflammatory Markers: A Multicenter Collaborative Retrospective study

Autores: Toshio Naito, Keito Torikai, Masafumi Mizooka e mais

Local: Multicêntrico – Japão

Fonte: Intern Med 54: 1989-1994, 2015

O estudo: O leucograma, VHS, procalcitonina e proteína-C reativa (PCR) são utilizadas como auxílio na diferenciação das possíveis causas de febre de origem indeterminada. Os autores procuraram entender o poder discriminativo destes exames.
Resultados: Participaram deste estudo 17 hospitais (de 99 convidados). As definições de febre foram as clássicas, propostas por Durack. Os diagnósticos finais foram classificados em Doenças Infecciosas (DI), tumores, Doenças Inflamatórias Não Infecciosas (DINI), outras causas e causa desconhecida.
Os achados principais foram:
– Diagnóstico: DI 23,1%, DINI 30,6%, tumores 10,7%, outras 12,4% e causa desconhecida 23,1%.
– Valor dos exames: Como mostrado na tabela 2, nenhum dos exames foi útil para discriminar as causas de febre.

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Comentários: É um estudo retrospectivo, o que sempre representa Continuar lendo

Qual é a gravidade da infecção causada pelo Influenza A H1N1?

Após a pandemia de 2009, muitos conceitos ficaram marcados com relação à gripe causada pelo vírus Influenza A H1N1. O que observamos é a ideia de que que a infecção causada pelo H1N1 é mais grave que aquela causada pelos demais vírus. Se por um ponto há algo positivo, que passamos a elencar o vírus influenza como um causador de doenças graves, e não somente uma “pequena gripe” ou “resfriado”, por outro lado ainda mantemos a ideia de que necessitamos de áreas especiais de isolamento e que somente o H1N1 deve ser pesquisado nas doenças graves.  O que há de verdade nestes conceitos?

O que há de especial no H1N1?

Em primeiro lugar vamos lembrar resumidamente das mutações do vírus que Influenza, que são as maiores, mas não únicas, determinantes da gravidade.

flulengthened-c67edec1e228dd09bc1cbbfdc25fbc170b283bfa-s800-c85Um vírus circulante, por exemplo um H3N2, sofre anualmente algumas poucas variações, mutações chamadas de “drift”. Muitos indivíduos já foram expostos a este vírus circulante. Quando entram em contato com uma variante “drift” do mesmo vírus, possuem defesas parciais. Desta forma, adquirem o vírus, manifestam infecção (gripe, influenza), mas a proteção parcial reduz muito o risco de doença grave. Por isto, Continuar lendo