Arquivo da categoria: Infecções durante a gestação

Herpes e gestação

Artigo: Genital Herpes and Its Treatment in Relation to Preterm Delivery

virus detected 2Autores:  De-Kun Li, Marsha A. Raebel, T. Craig Cheetham, Craig Hansen, Lyndsay Avalos, Hong Chen, eRobert Davis

Local:  Kaiser Foundation Research Institute.Oakland, California

Fonte:  Am J Epidemiol. 2014;180(11):1109–1117

O estudo:  Os autores estudaram a relação entre a reativação de herpes durante a gestação e a ocorrência de parto pré-termo. Trata-se de estudo de coorte, onde os autores acompanharam as condutas dos médicos assistentes. Pacientes com herpes genital durante a gestação (diagnóstico pelo médico assistente, triagem pelo CID). Mulheres que não utilizaram nenhuma terapêutica específica foram comparadas com aquelas que utilizaram antiviral sistêmico (aciclovir 99%, famciclovir 1%). Mulheres que utilizaram somente a preparação tópica foram excluídas.

Resultados:  Os autores observaram que o diagnóstico de herpes genital no primeiro e segundo trimestre de gestação aumentou o risco de parto pré-termo em 2,23 vezes. O uso de antiviral sistêmico reduziu o risco de parto pré-termo a níveis comparáveis às mulheres que não tiveram manifestações. hsv2.png Continuar lendo

Imunização para Estreptococo do Grupo B

Artigo: Group B streptococcus vaccination in pregnant women with or without HIV in Africa: a non-randomised phase 2, open-label, multicentre trial

antibodyAutores: Robert S Heyderman e mais

Local: Malawi, África do Sul, Itália, EUA e Inglaterra

Fonte:Lancet Infect Dis 2016; 16: 546–55

O estudo:Estudo de fase 2 visando avaliar imunogenicidade e segurança da vacina para estreptococos do grupo B (GBS-Vac) em gestantes de acordo com estado sorológico para o HIV. A vacina contém polissacarídeos dos sorotipos Ia, Ib, e III, administrada por via intramuscular entre a 24a. e 35a. semana de gestação. O desfecho primário foi a transferência de anticorpos para o recém-nascido (RN). O objetivo secundário foi a detecção de anticorpos na mãe.

Resultados: De 270 gestantes incluídas, completaram o estudo 87 no grupo HIV+CD4, baixo, 84 no grupo HIV+CD4 alto e no 83 grupo HIV-. Dentre os recém nascidos, foram analisados 87 no grupo HIV+CD4, baixo, 85 no grupo HIV+CD4 alto e no 84 grupo HIV-. As concentrações de anticorpos específicos nos RN nascidos de mães soronegativas foram significativamente maiores do que as nascidas de soropositivas: Continuar lendo

Transmissão vertical do HIV: a segunda geração

Artigo:  The second generation of HIV-1 vertically exposed infants: a case series from the Italian Register for paediatric HIV infection

Autores:  Carmelina Calitri, Clara Gabiano e mais

Local:  Italia

FonteBMC Infectious Diseases 2014, 14:277

virusO estudo:  Os autores utilizaram os dados do coorte de seguimento de crianças que adquiriram HIV no período neonatal. Eles selecionaram as mulheres infectadas que ficaram gestantes, a chamada segunda geração e descreveram o desfecho das gestações.

Resultados: 23 mães foram acompanhadas retrospectivamente. 10 não tinham tomando nenhum antirretroviral (ARV) até a concepção. Daquelas que receberam ARV previamente, uma tomou efavirenz até a quinta semana de gestação. Várias mães tinham recebido vários esquemas de ARV prévio. Durante a gestação, 21 mães receberam Continuar lendo

Hepatite C na gestação

Artigo Antiviral therapy for hepatitis C: Has anything changed for pregnant/lactating women?

Autores: Anna Maria Spera, Tarek Kamal Eldin, Grazia Tosone, Raffaele Orlando85450683-pregnancy

Local: Itália

FonteWorld J Hepatol 2016; 8(12): 557-565

A revisão: O risco de transmissão vertical do vírus da Hepatite C (HCV) varia de 3 a 10%. Estima-se que 50% dos indivíduos cronificarão a infecção e 10-20% apresentarão cirrose ou hepatocarcinoma.

O tratamento convencional com Interferon e Ribavirina é contraindicado na gestação. A Ribavirina é teratogênica, sendo classificada como X nos critérios do FDA. O interferon tem uma série de outros problemas durante a gestação.

Os agentes com ação direta (DAA) estão mudando a história dos pacientes portadores de HCV, aumentando drasticamente a taxa de pacientes com resposta virológica sustentada (RVS) e depuração viral. Para o genotipo 1, a partir de 2015 o Ministério da Saúde aprovou o uso e distribuição do esquema Sofosbuvir + Simeprevir.

O tratamento com DAAs Continuar lendo

Oseltamivir na gestação

Artigo:  The safety of oseltamivir in pregnancy: an updated review of postmarketing data

Autores:  Martina Wollenhaupt, Abhijeeth Chandrasekaran e Danitza Tomianovic

Local:  F. Hoffmann-La Roche Ltd, Basel, Suiça

flulengthened-c67edec1e228dd09bc1cbbfdc25fbc170b283bfa-s800-c85Fonte: Pharmacoepidemiology and drug safety 2014; 23: 1035–1042

O estudo:  O estudo é um compilado dos registros do Roche Global Safety Database, um acompanhamento pós-marketing visando determinação da segurança.

Resultados:  Os resultados mostram que a droga é segura na gestação. Foram registradas 2926 mulheres. A incidência de aborto Continuar lendo

Citomegalovírus durante a gestação: temos armas para prevenção das malformações?

Artigo:  A Randomized Trial of Hyperimmune Globulin to Prevent Congenital Cytomegalovirus

Autores:  Maria Grazia Revello, Tiziana Lazzarotto, Brunella Guerra e  the CHIP Study Group

Local:  Itália

Fonte:  N Engl J Med 2014;370:1316-26.

O estudo:  O diagnóstico de infecção pelo CMV durante a gestação é bastante preocupante. Apesar do risco de malformação variar de 2 a 5%, o assunto é particularmente palpitante por se tratar de fetos, crianças e por não termos nenhuma terapia aprovada que seja eficiente. Relatos na literatura mostraram resultados aparentemente satisfatórios. Neste estudo foi utilizada a da Cytotec, na dose de 100 U (2.0 ml) por quilo de peso, via endovenosa. 123 mulheres foram randomizadas para receberem a imunoglobulina ou placebo.

Resultados:  Os resultados, como mostrado na figura abaixo, mostraram que estatisticamente não houve diferenças entre os dois grupos, mas o número de eventos adversos graves durante a gestação foram mais Continuar lendo

Diagnóstico laboratorial da infecção aguda pelo Zika Virus

aj__nd3cEm recente recomendação de fevereiro de 2016, o CDC alerta sobre os seguintes tópicos referentes ao diagnóstico da infecção causada pelo Zika Vírus:

  1. Nos 7 primeiros dias de doença, o RT-PCR apresenta maior sensibilidade para detecção de flavivírus, ou a pesquisa do antígeno NS1 através de ELISA, especificamente no caso do vírus da dengue.
  2. A sorologia pode ser coletada a partir do 4o. dia do início dos sintomas, mas é mais sensato aguardar o 7o. dia.
  3. IgM persiste positivo por 2 a 12 semanas.IgM negativo 2 a 12 semanas após viagem para região de risco indica que não houve contágio.
  4. A interpretação de resultados positivos, em especial do IgM deve ser cautelosa, pois há reatividade cruzada com outros flavivírus, inclusive o vírus da dengue.

 

 

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Quantificação do risco de malformações em gestantes com infecção aguda causada por Zika Vírus

Artigo: Zika Virus Infection in Pregnant Women in Rio de Janeiro — Preliminary Report

Autores:Patrícia Brasil,  Jose P. Pereira, Jr., e mais

Local: Rio de Janeiro

Fonte: The new england journal of medicine 04/03/2016

Estudo: Este é o primeiro estudo epidemiológico publicado analisando os riscos da infecção pelo Zika Virus durante a gestação. Os autores seguiram 88 mulheres com diagnóstico de febre aguda durante a gestação, de setembro de 2015 a fevereiro de 2016. 72 (82%) tiveram diagnóstico de infecção pelo Zika Vírus. 37 apresentaram exantema. Com relação à semana de gestação, 17 estavam com <13 semanas, 38 entre 13 e 26 semanas e 17 entre 26 e 39 semanas de gestação.

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42 mulheres concordaram em fazer ultrassonografia para avaliação de possíveis malformações.  12(29%) apresentavam alterações ultrassonográficas:

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Um dos fetos apresentava calcificações cerebrais, mesmo a infecção tendo ocorrido na 27a. semana de gestação.

Comentários: A análise  epidemiológica de riscos é a principal ferramenta para dimensionarmos o tamanho de um certo problema.

O risco de malformação durante a gestação aqui parece assustar. Mas vamos lembrar: trata-se de um coorte com pacientes sintomáticas. O citomegalovírus está associado a um risco de malformações que varia de 2 a 5%, mas incluindo as soroconversões assintomáticas.

Este estudo, que posteriormente será lapidado por sucessores com maior tamanho amostral, e sem a pressão da necessidade, mostra um risco que não é desprezível e que justifica todas as medidas de saúde pública que estão sendo adotadas, e ainda mais.

Por que o Zika Vírus está causando tantos problemas?

A microcefalia associada ao Zika vírus causou muita comoção. Por vários fatores. Em primeiro lugar, pelo fator humano, diagnosticar um grande número de crianças que terão virus detected 2prejuízo em seu desenvolvimento futuro. Em segundo lugar, vemos escancaradas as nossas condições de saneamento básico, de organização de ações pelo estado e de distribuição de renda que pareciam estar tomando outro rumo. Em terceiro lugar, a própria existência da entidade microcefalia, pouco conhecida pela população geral, mas bem discutida em ambientes médicos.
Finalmente, a chegada de um agente infeccioso novo, desconhecido, que gerou hipóteses persecutórios quando não sobrenaturais, mas que na verdade são discutidas no meio da infectologia: as consequências do turismo, das migrações, a globalização de agentes infecciosos.
É uma surpresa vermos tantas complicações neurológicas associadas ao Zika Virus?
O Zika vírus pertence à família dos Flavivírus. Nesta família, há um grande números de vírus neuropatogênicos, incluindo o vírus da encefalite japonesa, o vírus da encefalite transmitida por carrapatos, o vírus  do oeste do Nilo, a febre amarela, e vários outros, incluindo o próprio vírus da dengue. As manifestações podem variar de encefalites, meningoencefalites a síndromes que se apresentam com paralisias, como a Síndrome de Guillan-Barré e doenças semelhantes à poliomielite. O exemplo é o da dengue, poucas vezes lembrado, resumidos numa recente revisão:

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Espondilodiscite tuberculosa: diagnóstico

Artigo: Differential diagnosis between tuberculous spondylodiscitis and pyogenic spontaneous spondylodiscitis: a multicenter descriptive and comparative study

Autores: Young K. Yoon,  Yu M. Jo e mais

Local:  Korea

Fonte: Spine J. 2015 Aug 1;15(8):1764-71

O estudo:  A espondilodiscite  engloba osteomielite, discite e espondilite. Seu diagnóstico é difícil, especialmente porque a realização de biópsia traz riscos e sua sensibilidade varia de 43-90%, sem contar a demora para crescimento em culturas. Os autores procuraram critérios clínicos e laboratoriais para diferenciar inicialmente – sem a necessidade de recursos mais complexos – casos com provável diagnóstico de espondilodiscite tuberculosa. Continuar lendo