Ceftriaxona ou Penicilina para Sífilis?

Artigo: Meta-analysis of ceftriaxone compared with penicillin for the treatment of syphilis

sifilis-vdrlAutores: Zhen Liang e mais

Fonte: International Journal of Antimicrobial Agents 47 (2016) 6–11

Local: China

Estudo: Os autores realizaram meta-análise comparando tratamento da sífilis com penicilina benzatina e ceftriaxona. Como critério, foram incluídos estudos abordando sífilis primária, secundária ou latente (terciária excluída), em pacientes sem alergia à penicilina.

Os desfechos foram observados através de seguimento com 3, 6 e 12 meses. Foram avaliados: (i) taxas de resposta e (ii) taxas de recaídas. Resposta foi definida como redução ≥4-vezes nos títulos VDRL/RPR , sem aumento de títulos no período.Recaída foi definida como aumento nos títulos após queda do VDRL/RPR  ≥4-vezes. Soropersistência foi definida como manutenção dos títulos após tratamento, sem manifestações clínicas, e falha como aumento ≥4 vezes após resposta inicial,título persistente ≥1:64, ou progressão clínica da doença.

Resultados: De 969 artigos encontrados na busca bibliográfica, sete se encaixaram nos critérios de inclusão e exclusão. 281 pacientes fizeram parte da análise. Os esquemas de ceftriaxona foram bastante diferentes de acordo com o estudo. Um dos esquemas variou de 2 g IM por dia, por dois dias, até esquemas de uma dose diária de 1-2g por 14 dias.

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Dados consolidados mostraram equivalência entre penicilina benzatina e ceftriaxona nas taxas de cura em 3,6 e 12 meses.  O mesmo foi observado para as recaídas, falhas terapêuticas e soropersistência.

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Comentários: Este estudo é particularmente importante porque o desabastecimento de penicilina está se tornando um problema, além do próprio aumento na incidência da doença. O estudo sugere que, na ausência da penicilina, a ceftriaxona é uma alternativa segura, ainda mais que a doxiciclina, a segunda opção, leva a maior desconforto, risco de hepatotoxicidade e menor adesão ao tratamento.

Ainda assim são necessários estudos mais robustos, e principalmente, análise de subpopulações de risco: gestantes, recém-nascidos, imunodeprimidos, envolvimento do SNC.

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5 pensamentos sobre “Ceftriaxona ou Penicilina para Sífilis?

  1. Avatar de Dalton Oliveira
    Dalton Oliveira 14 de agosto de 2016 às 21:09 Reply

    Beleza obrigado!!

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  2. Avatar de Peter
    Peter 27 de outubro de 2016 às 04:01 Reply

    Ajuda, mas é um estudo inconclusivo, valor d P muito alto (principalmente no segundo box) é heterogeneidade de amostra e tratamentos muito grande (I2 altissimo). Como se diz, na falta, vai a ceftriaxona, mas ainda assim sem respaldo. Infelizmente.

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    • Avatar de Infectologista
      Infectologista 27 de outubro de 2016 às 09:55 Reply

      A penicilina com cerreza ainda é o antimicrobiano de eleição. O grande problema é o desabastecimento. Temos três opções, azitromicina (a mais questionável), doxiciclina e cetriaxona. O mérito deste estudo é validar, ainda que sem um grau de evidência forte, a cetriaxona como alternativa.

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  3. Avatar de Ricardo
    Ricardo 28 de outubro de 2016 às 11:43 Reply

    E sobre a sífilis terciária, indeterminada e neonatal? Os desfechos nesses casos foram analisados? Como fica a penetração da ceftriaxona no SBC?

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    • Avatar de Infectologista
      Infectologista 28 de outubro de 2016 às 13:22 Reply

      Não vejo o problema como farmacocinético. Utilizamos a ceftriaxona para meningite, por exemplo. E a concentração no LCR é o modelo disponível, mas não ideal para previsão de eficácia. A anfotericina B, por exemplo, não tem concentração no LCR e utilizamos para meningite criptocócica. A questão é que não temos evidência robusta para a ceftriaxona na sífilis terciária. Nossa questão é: como tratar a sífilisbterciária quando não for possível usar a penicilina.

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