Surtos de Caxumba apesar da vacinação

Apesar das campanhas vacinais e altas taxas de cobertura, não é infrequente o diagnóstico de Parotidite causada pelo vírus da Caxumba, assim como a observação de surtos, especialmente em jovens e adultos jovens. Curiosamente, alguns destes surtos ocorreram em populações altamente vacinadas. O que explica?

Eficácia da vacina

4213mumps1Existem dois benefícios da vacinação: a proteção direta do vacinado, e a proteção através da imunidade de rebanho que, por mecanismos distintos, diminui a circulação do vírus reduzindo, a depender do grau de cobertura, a transmissão de forma mais ou menos intensa.

No caso do vírus da Caxumba, existem dois tópicos a serem abordados:

a) O diagnóstico da Caxumba muitas vezes é imperfeito. A Caxumba não é a única causa de Parotidite, e seria importante, especialmente em caso de surto, determinação sorológica da etiologia.

b) A vacina tem eficácia limitada. Domínguez e colaboradores observaram eficácia de 85,4% com uma dose e 88,5% com duas doses. A duração da proteção induzida pela vacina também é menor, o que pode explicar a idade mais elevada dos casos observada em surtos na Irlanda. Existe a discussão de recomendação de novo reforço em instituições onde ocorrem surtos para reduzir o número de suscetíveis. De toda forma, há que se pensar que esta eficácia determina um número razoável de suscetíveis, e um prejuízo à imunidade de rebanho.

Apesar das limitações, a vacina determinou uma redução dramática no número de casos de Caxumba, e estes surtos são muito mais a exceção do que a regra.

Angela Domínguez – Mumps vaccine effectiveness in highly immunized populations. Vaccine 28 (2010) 3567–3570.
Steven Abrams, Philippe Beutels, eNiel Hens – Assessing Mumps Outbreak Risk in Highly Vaccinated Populations Using Spatial Seroprevalence Data. Am J Epidemiol. 2014; 179(8): 1006–1017.
Erlend T Aasheim e mais – Outbreak of mumps in a school setting, United Kingdom, 2013. Human Vaccines & Immunotherapeutics 10:8, 2446–2449; August 2014.
Jaythoon Hassan e mais – Seroepidemiology of the recent mumps virus outbreaks in Ireland. Journal of Clinical Virology 53 (2012) 320– 324.

Genotipos do Vírus da Caxumba

Uma outra discussão importante se refere à limitação da cobertura de todos os genotipos do vírus da Caxumba. Xu e colaboradores analisaram isolados de surtos nos EUA, população altamente vacinada. Os autores encontraram o Genotipo G com mutação no gene SH, e descobriram que esta mutação confere escape ao sistema imune através de menor ativação de NF-κB e menor produção de TNF-α. Embora os dados sejam muito mais afeitos à virologia de bancada, há a sugestão de que existem cepas que de alguma forma escapam da proteção e que a vacina precisa ser melhorada.

Os dados obtidos destes surtos sugerem que a imunização com a presente vacina é benéfica, mas que é necessário alerta para surtos/necessidade de reforço e, principalmente, desenvolvimento e evolução da vacina presentemente disponível.

Pei Xu – Rescue of wild-type mumps virus from a strain associated with recent outbreaks helps to define the role of the SH ORF in the pathogenesis of mumps virus. Virology 417 (2011) 126–136.

 

Marcado:,

Deixe um comentário