Artigo: Pharmacist-driven antimicrobial stewardship program in an institution without infectious diseases physician support
Autores: C. Dustin Waters
Local: Infectious Diseases Clinical Pharmacist, Intermountain Healthcare, McKay-Dee Hospital, Ogden, UT
Fonte: Am J Health-Syst Pharm. 2015; 72:466-8
O estudo: O autor relata a experiência de racionalização de antimicrobianos onde “não se consegue” a atuação de um infectologista. Onde “é escassa” a presença do mesmo. Seu hospital possui 325 leitos. O farmacêutico estava disponível para discussão 16 horas/dia, 7dias/semana. Ele revisava todas as prescrições de antimicrobianos, procurando indicação, deescalonamento, duração. Não havia sistema informatizado nem protocolo.
Resultados: Do ponto de vista de consumo de antimicrobianos (sem avaliar sucesso clínico, resistência, etc).

Comentários: O trabalho em CCIH, ainda mais como médico infectologista, sempre foi difícil e neste momento passa por um período de forte pressão por esvaziamento. Mesmo com o papel mais relevante do controle de infecção nos programas de acreditação. Tudo porque as instâncias superiores (a maioria, mas não todas) não acreditam no custo-benefício do programa. Sempre houve pressão para que a CCIH, e em especial o médico, assumissem outras funções (Gestão de leitos, epidemiologia hospitalar, hotelaria, resíduos, e mais recentemente qualidade, gestão de riscos ou segurança do paciente). Não que seja proibida a coexistência de funções, mas frequentemente é uma forma de economia, com sobrecarga e dificuldade de realização plena da atividade de controle de infecção, tida como menos relevante para boa parte dos gestores. A maior parte dos projetos de segurança do paciente usam os dados do controle de infecção para promoção de “seus méritos”. Mas existem especificidades, e a principal é a racionalização de antimicrobianos.
O uso de protocolos não supervisionado por médico infectologista leva a resultados de gestão aparentemente bons. Redução de consumo, de custos, bela vista para as acreditadoras. Resultados reais, a presença de farmacêutico e enfermeiro no programa agregam muita qualidade. O problema é sua participação sem a discussão com o médico infectologista. Os resultados existem, mas a que custo?
- O infectologista é capaz de perceber, em conjunto com o médico assistente, as variações do caso, especialmente os mais graves.
- O infectologista é capaz de individualizar o tratamento de forma mais apropriada.
- A avaliação de consumo sem uma análise médica tem o potencial de gerar tratamentos equivocados e seus riscos.
- O canal de discussão de médico para médico é mais fácil.
Mas alguns pressupostos são necessários para que o papel do médico infectologista esteja mais claro e resolvido.
- Deve ser resolvido desde o início os papéis (divisão ou não) do trabalho do infectologista clínico e do controlador de infecção.
- A prioridade do trabalho do infectologista clínico é a infecção complicada, especialmente em UTI e transplantes, onde é mais justificável o uso de antimicrobianos de maior espectro (maior gravidade, maior risco de resistência). O impacto da ação do controlador de infecção é menor. A intervenção visando a redução de uso de “antibióticos indutores” e aumento de “antibióticos protetores” não tem embasamento sólido, o maior benefício é a redução de diagnósticos imprecisos e melhoria na duração da terapia.
- O controlador de infecção deve gastar mais tempo onde hoje menos atua: nas infecções comunitárias. O impacto sobre a resistência será maior: não usar amplo espectro para infecções sem risco de resistência, diminuir antibioticoterapia para sintomas inespecíficos e infecções virais, reduzir tempo de tratamento. A utilização de protocolos gerenciados, que podem e devem contar com a participação de enfermeiros e farmacêuticos, mas com o acompanhamento e discussão por médico infectologista é um excelente caminho. Protocolos como ferramenta, não como engrenagem automática, como hoje se faz.
Temos que nos acostumar a reivindicar qualidade, e ter um médico infectologista no programa significa qualidade. Oficialmente aceitar a deficiência é favorecer a inação e a falta de vontade dos gestores, sejam eles públicos ou privados.
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