Arquivo da tag: Racionalização de antimicrobianos

Racionalização de antimicrobianos: começar pelo maior espectro?

ArtigoAntimicrobial stewardship programs that target only high-cost,
broad-spectrum antimicrobials miss opportunities to reduce 
Clostridium difficile infections

Antibiotics - Medical Concept. Composition of Medicamen.

AutoresChristine Bui e mais

LocalSacramento, CA

FonteAmerican Journal of Infection Control 44 (2016) 1684-6

Estudo: Neste pequeno estudo, há a descrição da experiência de um hospital que a partir de 2013 passou a exigir autorização prévia para Continuar lendo

Uso de antimicrobianos na pneumonia viral

Artigo:Impact of antibacterials on subsequent resistance and clinical outcomes in adult patients with viral pneumonia: an opportunity for stewardship

Antibiotics - Medical Concept. Composition of Medicamen.Autores: Matthew P. Crotty e mais

Local: Saint Louis, EUA

FonteCritical Care (2015) 19:404

Estudo: Os autores estudaram o impacto da antibioticoterapia em pneumonia viral dos desfechos clínicos e no desenvolvimento de resistência. Continuar lendo

Avaliação da resposta ao tratamento da celulite

ArtigoEarly Response in Cellulitis: A Prospective Study of Dynamics and Predictors

AutoresTrond Bruun e mais

aurLocal: Noruega

FonteClinical Infectious Diseases 2016;63(8):103441

Estudo: O reajuste de esquema antimicrobiano, com ampliação do espectro é medida comum realizada com a sensação de fata de melhora clínica. No entanto, muitas vezes esta mudança é desnecessária, porque a “falta de resposta” é decorrente da inflamação intensa, da presença de toxinas e não pela falta de cobertura antimicrobiana. Este estudo procurou compreender a dinâmica da resposta ao tratamento na celulite e preditores de falha de esquema antimicrobiano.Desta forma, estudaram celulites causadas pelo estreptococo betahemolítico (BHS) e S.aureus e analisaram temporalmente a resposta clínica e laboratorial. A avaliação foi prospectiva e diária. Pacientes com coleções drenáveis foram escolhidos. As definições de desfecho Continuar lendo

Sepse além dos protocolos

Artigo: The association between time to antibiotics and relevant clinical outcomes in emergency department patients with various stages of sepsis: a prospective multi-center study

tiogmqbl1Autores:  Bas de Groot, Annemieke Ansems e mais

Local:  Leiden University Medical Center, Holanda

Fonte: Critical Care (2015) 19:194

O estudo:  Estudo multicêntrico, prospectivo, buscando analisar o impacto da antibioticoterapia imediata em sepse, de acordo com a gravidade. Esta foi avaliada através do Escore PIRO: 1 a 7 pontos, leve, 8-14 pontos, intermediária e >14 pontos, grave. O desfecho primário foi o número de dias fora do hospital em 28 dias após o diagnóstico (que reflete mortalidade e tempo de permanência hospitalar – quanto maior o tempo, menor a mortalidade ou tempo de hospitalização) e o desfecho secundário foi a mortalidade no 28º. dia após o diagnóstico.  Também foi analisado o acerto de espectro de cobertura.

Resultados:  Através da análise multivariada de Cox, os autores chegaram à conclusão que não houve benefício do rápido início de antibioticoterapia nos pacientes com sepse “leve” ou intermediária, escore de Piro <14 pontos. O acerto da cobertura antimicrobiana foi Continuar lendo

Antibioticoterapia curta em infecções intra-abdominais

Artigo: Trial of Short-Course Antimicrobial Therapy for Intraabdominal Infection

sawy_oa1411162_thumb_111x111Autores: R.G. Sawyer, J.A. Claridge e mais

Local: University of Virginia Health System -Multicêntrico EUA e Canada

Fonten engl j med 372;21

Estudo: 518 pacientes com diagnóstico de infecção intra-abdominal complicada (IIAC) e controle adequado da fonte foram randomizados em dois grupos: Controle (antibióticos até 24após paciente ter ficado afebril, sem leucocitose e com resolução do íleo, duração aceitável até o máximo de 10 dias), ou experimental (até 4 dias após a intervenção cirúrgica). A antibioticoterapia não foi padronizada, mas só foram incluídos pacientes cujos esquemas estivessem em consonância com a recomendação da ISDA. O desfecho primário foi uma composição de infecção de ferida cirúrgica, infecções recorrentes ou óbito.

Resultados: Um total de 518 pacientes foram randomizados. O grupo experimental utilizou em média 4 dias de antibióticos, e o controle, 8 dias. Os eventos pós-operatórios (composto ISC/doença recorrente/óbito) ocorreu em 22,3% no grupo experimental e 21,8% no controle. A ausência de diferenças entre os grupos percebidas nos resultados se mantiveram nas seguintes sub-análises:

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Identificação de portadores de ESBL em risco para desenvolvimento de infecções

Artigo:  Risk factors for developing ESBL E. coli: can clinicians predict infection in patients with prior colonization?

Autores:  T. Goulenok, A. Ferroni e mais

Local:  Paris, França

Fonte:  Journal of Hospital Infection 84 (2013) 294-299

O estudo: Através de um estudo de caso-controle os autores compararam a ocorrência de infecções causadas por ESBL em portadores e não portadores assintomáticos. 40 casos e 78 controles foram selecionados, pareados por idade, tempo de exposição e localização no hospital.

Resultados:  Os fatores de risco para transformação do estado de portador para infecção foram relacionados ao uso de dispositivos invasivos e Continuar lendo

Uma hora de sepse

Artigo:  The Impact of Timing of Antibiotics on Outcomes in Severe Sepsis and Septic Shock: A Systematic Review and Meta-Analysis

Autores:  Sarah A. Sterling, W. Ryan Miller,Jason Pryor, Michael A. Puskarich, Alan E. Jones

Local: Department of Emergency Medicine, University of Mississippi School of Medicine

Fonte:  Critical Care Medicine  2015 Sep;43(9):1907-15.

O estudo:  Os autores realizaram uma mata-análise investigando a associação entre o uso de antimicrobiano em 1h após diagnóstico de sepse grave e mortalidade. De 1115 estudos sepsislevantados com as palavras-chave, foram separados 11 para análise.

Resultados:  Eles analisaram o impacto da antibioticoterapia, segundo as recomendações, 1h após o estabelecimento do choque séptico, ou 3h após a triagem Continuar lendo

Racionalização de antimicrobianos sem médico infectologista: solução ou pesadelo?

Artigo:  Pharmacist-driven antimicrobial stewardship program in an institution without infectious diseases physician support

Autores:  C. Dustin Waters

Local:  Infectious Diseases Clinical Pharmacist, Intermountain Healthcare, McKay-Dee Hospital, Ogden, UT

Fonte:  Am J Health-Syst Pharm. 2015; 72:466-8

O estudo:  O autor relata a experiência de racionalização de antimicrobianos onde “não se consegue” a atuação de um infectologista. Onde “é escassa” a presença do mesmo. Seu hospital possui 325 leitos. O farmacêutico estava disponível para discussão 16 horas/dia, 7dias/semana. Ele revisava todas as prescrições de antimicrobianos, procurando indicação, deescalonamento, duração. Não havia sistema informatizado nem protocolo.

Resultados:  Do ponto de vista de consumo de antimicrobianos (sem avaliar sucesso clínico, resistência, etc).

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Comentários: O trabalho em CCIH, ainda mais como médico infectologista, sempre foi difícil e neste momento passa por um período de forte pressão por esvaziamento. Mesmo com o papel mais relevante do controle de infecção nos programas de acreditação. Tudo porque as instâncias superiores (a maioria, mas não todas) não acreditam no custo-benefício do programa. Sempre houve pressão para que a CCIH, e em especial o médico, assumissem outras funções (Gestão de leitos, epidemiologia hospitalar, hotelaria, resíduos, e mais recentemente qualidade, gestão de riscos ou segurança do paciente). Não que seja proibida a coexistência de funções, mas frequentemente é uma forma de economia, com sobrecarga e dificuldade de realização plena da atividade de controle de infecção, tida como menos relevante para boa parte dos gestores. A maior parte dos projetos de segurança do paciente usam os dados do controle de infecção para promoção de “seus méritos”. Mas existem especificidades, e a principal é a racionalização de antimicrobianos.

O uso de protocolos não supervisionado por médico infectologista leva a resultados de gestão aparentemente bons. Redução de consumo, de custos, bela vista para as acreditadoras. Resultados reais, a presença de farmacêutico e enfermeiro no programa agregam muita qualidade. O problema é sua participação sem a discussão com o médico infectologista. Os resultados existem, mas a que custo?

  1. O infectologista é capaz de perceber, em conjunto com o médico assistente, as variações do caso, especialmente os mais graves.
  2. O infectologista é capaz de individualizar o tratamento de forma mais apropriada.
  3. A avaliação de consumo sem uma análise médica tem o potencial de gerar tratamentos equivocados e seus riscos.
  4. O canal de discussão de médico para médico é mais fácil.

Mas alguns pressupostos são necessários para que o papel do médico infectologista esteja mais claro e resolvido.

  1. Deve ser resolvido desde o início os papéis (divisão ou não) do trabalho do infectologista clínico e do controlador de infecção.
  2. A prioridade do trabalho do infectologista clínico é a infecção complicada, especialmente em UTI e transplantes, onde é mais justificável o uso de antimicrobianos de maior espectro (maior gravidade, maior risco de resistência). O impacto da ação do controlador de infecção é menor. A intervenção visando a redução de uso de “antibióticos indutores” e aumento de “antibióticos protetores” não tem embasamento sólido, o maior benefício é a redução de diagnósticos imprecisos e melhoria na duração da terapia.
  3. O controlador de infecção deve gastar mais tempo onde hoje menos atua: nas infecções comunitárias. O impacto sobre a resistência será maior: não usar amplo espectro para infecções sem risco de resistência, diminuir antibioticoterapia para sintomas inespecíficos e infecções virais, reduzir tempo de tratamento. A utilização de protocolos gerenciados, que podem e devem contar com a participação de enfermeiros e farmacêuticos, mas com o acompanhamento e discussão por médico infectologista é um excelente caminho. Protocolos como ferramenta, não como engrenagem automática, como hoje se faz.

Temos que nos acostumar a reivindicar qualidade, e ter um médico infectologista no programa significa qualidade. Oficialmente aceitar a deficiência é favorecer a inação e a falta de vontade dos gestores, sejam eles públicos ou privados.

 

Protocolos, pra que te quero?

Artigo:  The McDonaldization of Medicine

 

Autores:  E. Ray Dorsey & George Ritzer

 

Fonte:  Editorial. JAMA Neurology Published online November 16, 2015

 

Comentários:

 

As put forth inTheMcDonaldization of Society, “the principles of the fast-food restaurant are coming to dominate more and more sectors of American society,” including medicine. While designed to produce a rational system, the4basic principles of McDonaldization— efficiency, calculability, predictability,andcontrol— often lead to adverse consequences. Without measures to counter McDonaldization, medicine’s most cherished and defining values including care for the individual and meaningful patient-physician relationships will be threatened.

 

Os autores discutem brevemente as vantagens e desvantagens desta padronização. As vantagens são minimizar variação e erro, tendo menor variação o custo é mais previsível. Em Segurança do Paciente, é uma ferramenta particularmente importante. Mas a tendência, como efeito adverso, é a perda do olhar da variação, própria da biologia, levando a diagnósticos e condutas errôneos. Além disto, muda-se a relação médico-paciente, que aborda outros aspectos da medicina (não somente os imediatos, biológicos), permitindo que médicos empregados de forma precária, sem vínculo com paciente, possam avaliar o paciente em esquema de rodízio, sem a menor vinculação ou estabelecimento de conhecimento profundo ou vínculo de confiança. É o ser humano sendo tratado como encanamento. A eficiência, olhada unilateralmente, tem o viés de quem a determina.

mcdnonaldização

Este é um editorial bastante importante. Em algumas instituições, no Brasil inclusive, as condutas médias estão sendo padronizadas e supervisionadas através de protocolos. Se por um lado, a padronização minimiza erros por desconhecimento, aumenta devido ao cerceamento de atividades nos casos que possuem variantes. A medicina não é uma ciência exata.  Aqueles que trabalham com o controle de infecções hospitalares têm sentido isto, a hipertrofia dos protocolos, limitando a expertise técnica. Protocolos são caminhos, não formões. Devem ser utilizados, sem a menor dúvida, mas com prudência.