Arquivo da categoria: Infecções em geriatria

Vitaminas e infecções

As vitaminas são um grande mito moderno, parte do imaginário da população. Acredita-se no poder das vitaminas como um purificador, um detox, um restaurador de energias e das defesas.Produtos naturais,  sem toxicidade, desprovidos de interesses econômicos.

vitaminsNada é tão simples. As vitaminas estão no centro mais duro da medicina alopática. Elas representam o processo bioquímico que facilita a vida celular. Sua deficiência significa uma gênese de doença. Esta é a visão da medicina ocidental, científica, baseada em processos celulares e bioquímicos.

A suplementação também é parte deste processo. Os suplementos são substâncias sintetizadas artificialmente, concentradas para garantir uma superdosagem. Comercializadas por grandes fabricantes. Além disto, a superdosagem eventualmente pode estar associada a eventos adversos. A superdosagem de vitamina C pode aumentar o risco de desenvolvimento de cálculos urinários. A reposição de vitaminas processadas industrialmente é qualquer coisa menos medicina natural.

Mas a real pergunta, a que interessa, é: a suplementação realmente funciona? Nesta página, por diversas vezes este assunto foi abordado. Agora é a vez de compreender o papel dos polivitamínicos.

Suplementação e deficiência vitamínica

Numa importante revisão sistemática publicada em 2006, o AHRQ (Agency for Healthcare Research and Quality), entidade oficial americana,  mostrou que os multivitamínicos Continuar lendo

Vitamina C e cama

Artigo: Vitamin C for preventing and treating the common cold

Autores:  Harri Hemilä, Elizabeth Chalker e Cochrane Acute Respiratory Infections Group

Local:  Cochrane

Fonte:  Cochrane Databasis, 2013

O estudo:  Revisão sistemática sobre uso profilático ou terapêutico da vitamina C e seu vitaminsimpacto no desenvolvimento e duração de resfriados.

Resultados: Foram analisadas 29 publicações (n=11.306). Resultados observados:

– Prevenção de resfriados, tanto na população geral (RR = 0,97 [intervalo de confiança de 95% [IC95%] = 0,94 a 1,00]. Houve benefício para maratonistas, esquiadores e soldados (RR = 0,48 [IC95% = 0,35 a 0,64], tamanho amostral substancialmente menor).

– Houve uma pequena redução na duração do resfriado, redução de 8% em adultos e 3% em crianças. O impacto diminuto desta redução numa doença de curtíssima duração merece ser considerado. Não há evidência de redução Continuar lendo

Dose do antiviral no tratamento do herpes zoster

Artigo:  Higher dose versus lower dose of antiviral therapy in the treatment of herpes zoster infection in the elderly: a matched retrospective population-based cohort study

Autores:  Ngan N Lam, Jamie L Fleet, Eric McArthur, Peter G Blake e Amit X Garg

Local:  Western University, London

Fonte:  BMC Pharmacology and Toxicology 2014, 15:48

O estudo: Os autores realizaram um coorte retrospectivo baseado nos registros computadorizados do sistema de saúde, comparando uso de aciclovir em dose alta (n=23256) e dose baixa (n=3876). Os desfechos observados foram: Primário – hospitalização em 30 dias com CT sugerindo neurotoxicidade; Secundário – óbito por qualquer causa em trinta dias. Foram analisados subgrupos (IRC, sexo, idade, antiviral).

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Resultados:  A incidência de neurotoxicidade foi Continuar lendo

Prions e doenças neurológicas: Alzheimer e Parkinson são transmissíveis?

Artigo:  Is there a risk of prion‑like disease transmission by Alzheimer or Parkinson‑associated protein particles?

Autores:  Michael Beekes, Achim Thomzig, Walter J. Schulz-Schaeffer, Reinhard Burger

Local:  University Medical Center Goettingen

Fonte:  Acta Neuropathol. 2014; 128(4): 463–476.

A revisão:  Este artigo de revisão é particularmente abrangente, abordando desde o mecanismo de infecção e transmissão de príons, até os aspectos clínicos e epidemiológicos.

As evidências para associação entre Doença de Alzheimer (DA) e príons são cada vez mais fortes. Em 80% dos casos é possível observar-se acúmulo amiloide e também acúmulo de agregados de TAU, que não é um achado específico. No caso da Doença de Parkinson (DP), a doença tem um padrão de progressão típico, geralmente mostrando progressão por áreas contíguas, e há também deposição e acúmulo de proteínas (PrPTSE).

A| grande questão para o infectologista é: estas doenças são transmissíveis? Os elementos que hoje dispomos são:

  1. As doenças classicamente causadas por príons são transmissíveis
  2. Experimentos com animais (roedores) mostraram que é possível a recuperação, em animais expostos, de proteínas alteradas, que estão associadas a formas familiares de DA, DP e demência frontotemporal.
  3. Nenhum destes estudos com roedores mostrou evidência cerebral de neurodegeneração cerebral, declínio cognitivo ou desenvolvimento de doença fatal.

Estes achados foram muito parecidos com aqueles encontrados em estudos realizados com primatas, que são um modelo mais adequado. As proteínas pesquisadas foram a TAU e α‑Synucleina.

tumblr_ml3gobAjZq1rlxtnvo1_540Estudos epidemiológicos não sugerem a transmissão inter-humanos. Um destes estudos foi realizado com 6000 hemofílicos, mostrando que mesmo os politransfundidos não apresentavam maior risco de doenças neurodegenerativas.

Comentários: Hoje existem evidências cada vez maiores da associação de príons (ou proteínas similares a príons) com doenças neurológicas comuns, como a DP e alguns casos de DA. Mesmo a temida Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) parece ser causada por proteínas autorreplicativas. Caso confirmado, este assunto será particularmente importante para o infectologista que deverá se envolver no conhecimento e recomendações a respeito da transmissibilidade destas doenças. A evidência atual é de que não há transmissão, mas é necessário acompanhamento bem próximo da literatura, que deverá elucidar este assunto definitivamente nos próximos recentes anos.

Ceftriaxona para infecções estafilocócicas?

Artigo:  Outcomes of ceftriaxone use compared to standard of therapy in methicillin susceptible staphylococcal aureus (MSSA) bloodstream infections

Autores:  Ursula C. Patel, Edward Hines, Jr., Erin L. McKissic, Douglas Kasper, Joseph R. Lentino, Constance T. Pachucki, Todd Lee, Bert K. Lopansri.

Local:  Vancouver

Fonte:  International Journal of Clinical Pharmacy. 2014, 36 (6):1282-1289.

O estudo:  Carregamos a informação que existe uma progressão de atividade de acordo com a geração de cefalosporinas. As de primeira geração seriam melhores para gram-positivos, e esta ação seria perdida nas cefalosporinas de Terceira geração. Que a atividade para gram-negativos seria aumentada com o “passar” das gerações. Por isto muitos associam oxacilina à ceftriaxona quando a cobertura anti-estafilocócica é demandada. Seria esta cobertura necessária? A classificação de gerações é uma hipersimplificação. As cefalosporinas de segunda geração têm a cefoxitina, com ótima ação anti-anaeróbica, e a cefuroxima, sem esta cobertura. In vitro, a ceftazidima não possui cobertura para estafilococos, e boa atividade sobre  Pseudomonas. aurJá a ceftriaxona não possui atividade confiável sobre Pseudomonas, mas as MICs para estafilococos são mais baixas do que as vistas com cefazolina. Continuar lendo

Antibioticoterapia em infecções respiratórias agudas: Guideline 2016

Artigo:  Appropriate Antibiotic Use for Acute Respiratory Tract Infection in Adults: Advice for High-Value Care From the American College of Physicians and the Centers for Disease Control and Prevention

Autores:  Aaron M. Harris, Lauri A. Hicks, e  Amir Qaseem, pelo High Value Care Task Force of the American College of Physicians e pelo Centers for Disease Control and Prevention

Local:  EUA

Fonte:  Ann Intern Med. doi:10.7326/M15-1840

O guideline: O assunto parece óbvio e resolvido, mas não é tão simples. Nosso conceito é: vamos desestimular o uso de antimicrobianos para o tratamento de infecções respiratórias virais agudas. Esta é a condição em que mais se usa um antimicrobiano, a que mais seleciona resistência. Muito mais do que poucos pacientes em estado gravíssimo numa UTI. Nossos esforços de controle da resistência deveriam se voltar com maior intensidade para as situações mais “simples” onde usamos antibióticos “inócuos”. Na verdade, toda a antibioticoterapia deveria ser sistematizada de forma diferente, mas frequentemente nós, infectologistas, viramos nossas maiores atenções para as situações onde o impacto é menor.

No caso das IVAS, além das dificuldades diagnósticas e de educação em larga escala, temos alguns estudos que mostram benefícios em populações selecionadas, de alto risco, especialmente idosos com comorbidades. Estas situações deveriam ser melhor exploradas.

Na tabela, estão resumidas as principais recomendações destas duas entidades.

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