Arquivo da categoria: Controle de infecção

Luvas de látex com talco: posição do FDA

latex20powdered20non20sterileNos últimos anos, cada vez mais observamos o uso de luvas que já são fabricadas com talco, no intuito de se facilitar o uso. No dia 21/03/2016 o Food and Drug Administration (FDA) propôs o banimento destas luvas. Os eventos adversos que levaram a esta proposta foram:

  • Inflamação das vias aéreas
  • Inflamação da ferida
  • Aderências pós-operatórias.

Esta proposta ainda está sob avaliação, mas de toda forma, em caso de uso, é importante a vigilância estrita visando a observação de possíveis eventos adversos.

 

Precauções de contato para MRSA: tirando o avental

Artigo:  Degowning the controversies of contact precautions for methicillin-resistant Staphylococcus aureus: A review

Autores:  Ravina Kullar,Angela Vassallo, Teena Chopra, Keith S. Kaye, Sorabh Dhar

Local:  EUA

Fonte:  American Journal of Infection Control 44 (2016) 97-103

A revisão: O artigo é uma revisão sistemática sobre a efetividade das precauções de contato sobre a colonização por MRSA.

Efeitos sobre a colonização por MRSA e desfechos em pacientes com precauções de contato

Os autores afirmaram que há evidência da efetividade em situações de surtos ou de alta adesão), mas criticaram os resultados, dizendo que durante um surto as precauções de contato não são as únicas intervenções (ou variáveis) potencialmente determinantes de resolução. Em situações de ‘normalidade’, ou seja, Continuar lendo

Prevenção “natural” da infecção urinária pós-operatória

Artigo:  Cranberry juice capsules and urinary tract infection after surgery: results of a randomized trial

Autores:  Betsy Foxman, Anna E. W. Cronenwett, Cathie Spino, Mitchell B. Berger, Daniel M. Morgan

Local:  University of Michigan School of Medicine

Fonte:  Am J Obstet Gynecol 2015;213:194.e1-8.

O estudo:  Os autores realizaram um estudo de intervenção, randomizado, comparando a incidência de infecção urinária após cirurgia ginecológica. Pacientes foram alocados no grupo teste (1 cápsula de cranberries a cada 12h por 4-6 semanas ou placebo). O desfecho foi o diagnóstico clínico de ITU, com ou sem cultura positiva. Os pacientes foram orientados a não tomar sucos de cranberries ou complementos de vitamina C durante o estudo.

Resultados:  76 mulheres completaram o estudo no grupo teste e 74 no grupo placebo. Os itu cranresultados mostraram menor incidência e maior tempo para adoecimento nas pacientes submetidas ao suco de cranberries. Continuar lendo

Racionalização de antimicrobianos sem médico infectologista: solução ou pesadelo?

Artigo:  Pharmacist-driven antimicrobial stewardship program in an institution without infectious diseases physician support

Autores:  C. Dustin Waters

Local:  Infectious Diseases Clinical Pharmacist, Intermountain Healthcare, McKay-Dee Hospital, Ogden, UT

Fonte:  Am J Health-Syst Pharm. 2015; 72:466-8

O estudo:  O autor relata a experiência de racionalização de antimicrobianos onde “não se consegue” a atuação de um infectologista. Onde “é escassa” a presença do mesmo. Seu hospital possui 325 leitos. O farmacêutico estava disponível para discussão 16 horas/dia, 7dias/semana. Ele revisava todas as prescrições de antimicrobianos, procurando indicação, deescalonamento, duração. Não havia sistema informatizado nem protocolo.

Resultados:  Do ponto de vista de consumo de antimicrobianos (sem avaliar sucesso clínico, resistência, etc).

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Comentários: O trabalho em CCIH, ainda mais como médico infectologista, sempre foi difícil e neste momento passa por um período de forte pressão por esvaziamento. Mesmo com o papel mais relevante do controle de infecção nos programas de acreditação. Tudo porque as instâncias superiores (a maioria, mas não todas) não acreditam no custo-benefício do programa. Sempre houve pressão para que a CCIH, e em especial o médico, assumissem outras funções (Gestão de leitos, epidemiologia hospitalar, hotelaria, resíduos, e mais recentemente qualidade, gestão de riscos ou segurança do paciente). Não que seja proibida a coexistência de funções, mas frequentemente é uma forma de economia, com sobrecarga e dificuldade de realização plena da atividade de controle de infecção, tida como menos relevante para boa parte dos gestores. A maior parte dos projetos de segurança do paciente usam os dados do controle de infecção para promoção de “seus méritos”. Mas existem especificidades, e a principal é a racionalização de antimicrobianos.

O uso de protocolos não supervisionado por médico infectologista leva a resultados de gestão aparentemente bons. Redução de consumo, de custos, bela vista para as acreditadoras. Resultados reais, a presença de farmacêutico e enfermeiro no programa agregam muita qualidade. O problema é sua participação sem a discussão com o médico infectologista. Os resultados existem, mas a que custo?

  1. O infectologista é capaz de perceber, em conjunto com o médico assistente, as variações do caso, especialmente os mais graves.
  2. O infectologista é capaz de individualizar o tratamento de forma mais apropriada.
  3. A avaliação de consumo sem uma análise médica tem o potencial de gerar tratamentos equivocados e seus riscos.
  4. O canal de discussão de médico para médico é mais fácil.

Mas alguns pressupostos são necessários para que o papel do médico infectologista esteja mais claro e resolvido.

  1. Deve ser resolvido desde o início os papéis (divisão ou não) do trabalho do infectologista clínico e do controlador de infecção.
  2. A prioridade do trabalho do infectologista clínico é a infecção complicada, especialmente em UTI e transplantes, onde é mais justificável o uso de antimicrobianos de maior espectro (maior gravidade, maior risco de resistência). O impacto da ação do controlador de infecção é menor. A intervenção visando a redução de uso de “antibióticos indutores” e aumento de “antibióticos protetores” não tem embasamento sólido, o maior benefício é a redução de diagnósticos imprecisos e melhoria na duração da terapia.
  3. O controlador de infecção deve gastar mais tempo onde hoje menos atua: nas infecções comunitárias. O impacto sobre a resistência será maior: não usar amplo espectro para infecções sem risco de resistência, diminuir antibioticoterapia para sintomas inespecíficos e infecções virais, reduzir tempo de tratamento. A utilização de protocolos gerenciados, que podem e devem contar com a participação de enfermeiros e farmacêuticos, mas com o acompanhamento e discussão por médico infectologista é um excelente caminho. Protocolos como ferramenta, não como engrenagem automática, como hoje se faz.

Temos que nos acostumar a reivindicar qualidade, e ter um médico infectologista no programa significa qualidade. Oficialmente aceitar a deficiência é favorecer a inação e a falta de vontade dos gestores, sejam eles públicos ou privados.

 

Novo Guideline da IDSA sobre Candidíase

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Artigo: Clinical Practice Guideline for the Management of Candidiasis: 2016 Update by the Infectious Diseases Society of America

Autores: Peter G. Pappas,Carol A. Kauffman, David R. Andes, Cornelius J. Clancy, Kieren A. Marr, Luis Ostrosky-Zeichner, Annette C. Reboli, Mindy G. Schuster, Jose A. Vazquez, Thomas J. Walsh,Theoklis E. Zaoutis, e Jack D. Sobel

Link: http://cid.oxfordjournals.org/content/early/2015/12/15/cid.civ933.full.pdf

Fonte: Clin Infect Dis. 2015 Dec 16. pii: civ933. [Epub ahead of print]

O estudo: Novo guideline da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas

Pontos críticos:

Candidemia em pacientes não-neutropênicos

1. Droga de escolha: equinocandina
2. Um azole é alternativa para pacientes não-críticos, sem fatores de risco para resistência
3. Deescalonamento de uma equinocandina para um azole pode ser feito quando o paciente estiver estável, com culturas negativas e o isolado for sensível ao fluconazol
4. Para C. glabrata, esta transição só pode ser cogitada (fluconazol em doses altas ou voriconazol) se o fungo for sensível Continuar lendo

Protocolos, pra que te quero?

Artigo:  The McDonaldization of Medicine

 

Autores:  E. Ray Dorsey & George Ritzer

 

Fonte:  Editorial. JAMA Neurology Published online November 16, 2015

 

Comentários:

 

As put forth inTheMcDonaldization of Society, “the principles of the fast-food restaurant are coming to dominate more and more sectors of American society,” including medicine. While designed to produce a rational system, the4basic principles of McDonaldization— efficiency, calculability, predictability,andcontrol— often lead to adverse consequences. Without measures to counter McDonaldization, medicine’s most cherished and defining values including care for the individual and meaningful patient-physician relationships will be threatened.

 

Os autores discutem brevemente as vantagens e desvantagens desta padronização. As vantagens são minimizar variação e erro, tendo menor variação o custo é mais previsível. Em Segurança do Paciente, é uma ferramenta particularmente importante. Mas a tendência, como efeito adverso, é a perda do olhar da variação, própria da biologia, levando a diagnósticos e condutas errôneos. Além disto, muda-se a relação médico-paciente, que aborda outros aspectos da medicina (não somente os imediatos, biológicos), permitindo que médicos empregados de forma precária, sem vínculo com paciente, possam avaliar o paciente em esquema de rodízio, sem a menor vinculação ou estabelecimento de conhecimento profundo ou vínculo de confiança. É o ser humano sendo tratado como encanamento. A eficiência, olhada unilateralmente, tem o viés de quem a determina.

mcdnonaldização

Este é um editorial bastante importante. Em algumas instituições, no Brasil inclusive, as condutas médias estão sendo padronizadas e supervisionadas através de protocolos. Se por um lado, a padronização minimiza erros por desconhecimento, aumenta devido ao cerceamento de atividades nos casos que possuem variantes. A medicina não é uma ciência exata.  Aqueles que trabalham com o controle de infecções hospitalares têm sentido isto, a hipertrofia dos protocolos, limitando a expertise técnica. Protocolos são caminhos, não formões. Devem ser utilizados, sem a menor dúvida, mas com prudência.