Artigo: Quinolones versus macrolides in the treatment of legionellosis: a systematic review and meta-analysis.
Autores: C. Burdet e mais.
Local: França.
Fonte: J Antimicrob Chemother. 2014 Sep;69(9):2354-60.
Estudo: Os autores decidiram analisar as publicações comparando o uso de quinolonas versus o uso de macrolídeos no tratamento da legionelose. Os desfechos abordados foram:
- Primário – Mortalidade.
- Secundários – Tempo para defervescência da febre, tempo de permanência hospitalar, ocorrência de complicações (segundo critérios dos autores dos estudos), necessidade de ventilação mecânica e eventos adversos.
Foram considerados para a revisão sistemática artigos que avaliaram tratamento clínico da legionelose comprovada por sorologia, biologia molecular, cultura ou detecção de antígeno urinário.
Estudos que utilizaram segunda droga adjuvante no tratamento da legionelose (rifampicina, eritromicina) foram descartados.
Resultado: De 1005 artigos avaliados, sobraram 12 para análise sistemática. Ainda assim, nove eram coortes, seis retrospectivos, cinco do mesmo centro. 879 pacientes foram analisados na meta-análise.
A meta-análise não mostrou superioridade das quinolonas sobre macrolídeos na
avaliação da mortalidade. O odds ratio foi de 0,5, favorecendo as quinolonas, mas o intervalo de confiança bastante amplo, englobando o 1, mostrando que estatisticamente não há diferenças.

Dentre os desfechos secundários – (b) resolução clínica, (c) tempo para defervescência da febre, (d) tempo de permanência hospitalar e (e) desenvolvimento de complicações, diferenças só foram observadas, favorecendo as quinolonas, no tempo de permanência.

Comentários: Muitas vezes fazemos algo que se contrapõe aos princípios teóricos que defendemos. Vejamos a seguinte lógica: a) Consideramos os macrolídeos antimicrobianos de baixa potência, pouco adequados ao uso (em monoterapia) para tratamento de infecções graves. b) A legionelose é uma doença potencialmente grave. c) No tratamento da pneumonia grave, onde a Legionella pneumophilla é um possível causador, utilizamos um betalactâmico associado a um macrolídeo, este último como droga única para combater a Legionella. Estamos sendo coerentes?
Em primeiro lugar, a concentração intracelular dos macrolídeos, onde parasita a Legionella, é muito alta, o que pode fragilizar a ideia de baixa potência desta classe ‘bacteriostática’. Em segundo lugar temos todos vasta experiência de uso de macrolídeos como droga principal para o tratamento de certas infecções graves, não sepse ou pneumonia pneumocócica, onde agentes extracelulares determinam a reação inata desenfreada.
A meta-análise tem grandes problemas:
- Pequeno número de estudos.
- Ajuste de gravidade imperfeito.
- Inclusão de diversas síndromes clínicas sem uma padronização diagnóstica boa.
- Estudos-fonte de pouca qualificação (retrospectivos, observacionais).
Ainda assim , maior limitação do estudo é um problema frequente quando lemos artigos científicos. Os autores tiram conclusões diferentes daquelas apresentadas nos resultados. A revisão sistemática mostra que, apesar de uma tendência ‘visual’ favorecendo as quinolonas, estatisticamente não há diferença entre as drogas. Já os autores concluíram que a tendência aponta a superioridade das quinolonas, apesar de não terem alcançado a significância estatística.
Questão de ponto de vista ou rigor sistemático?
Mediante as limitações dos estudos-fonte que geraram esta meta-análise, é melhor, como sempre, acreditar nos resultados do artigo do que na fé de seus autores.
Marcado:Macrolídeos, Pneumonia, Quinolonas
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