Artigo: Global emergence of enterovirus D68: a systematic review
Autores: Charlotte Carina Holm-Hansen, Sofi e Elisabeth Midgley, Thea Kølsen Fischer

Local: Copenhagen, Denmark
Fonte: The Lancet Infectious Diseases , Volume 16 , Issue 5 , e64 – e75
Estudo: O Enterovírus D68 foi descoberto em 1962 e até 2005 poucos casos clínicos haviam sido registrados.No entanto, trata-se de mais um vírus emergente. Em 2014 foram registrados surtos de infecção respiratória aguda grave causada pelo Enterovírus D68, inicialmente nos EUA e Canada, posteriormente em outras regiões do mundo. O maior destes surtos registrou 1153 casos de infecção respiratória grave e 107 casos de mielite aguda flácida. Outros quadros neurológicos descritos são a fraqueza muscular, a paralisia aguda polio-like, e a neuropatia craniana.
A espécie Enterovírus D possui quatro genotipos: Enterovírus D68, D70, D111 e D120. Recentemente o rinovírus 87 foi reclassificado como uma cepa do enterovírus D68. Os autores analisaram sistematicamente a literatura sobre a Enterovirose D68, procurando compreender melhor epidemiologia, manifestações clínicas e evolução.
Resultados: Dos 330 artigos encontrados, os autores selecionaram 70. O espectro das manifestações respiratórias em crianças (figura) variou de um simples resfriado até bronquiolite, pneumonia grave e insuficiência respiratória. Nos adultos quadros respiratórios graves também foram relatados, mas com menor frequência. Os quadros neurológicos, como a paralisia flácida aguda ocorreram tanto em adultos como crianças.

A determinação do risco de doença grave e óbito foi superestimada, devido ao tipo de publicação hoje disponível em literatura (série de casos/ relato de surtos) que possui a tendência de descrever os quadros de maior gravidade. No maior surto, o dos EUA de 2014, a necessidade de alguma assistência ventilatória foi frequente. Em Cleveland chegou a 45% dos casos. No Kansas todas as 19 crianças identificadas foram internadas em UTI, e em Chicago 10/11 casos.Foram registrados 45 óbitos, 1% dos casos publicados. Cabe ressaltar que a capacidade de suspeita e identificação de casos ainda é restrita pela falta de conhecimento da doença.
Pacientes transplantados, com diagnóstico de asma ou DPOC estavam em risco de infecção grave.
Também foram relatados casos de paralisia aguda flácida, semelhante à poliomielite. Apesar do intenso esforço para erradicação da poliomielite, uma incidência (bem menor) de paralisia aguda flácida persiste no mundo, e tudo aponta para a participação de outros vírus na gênese da doença. O Enterovírus D68 parece ser um deles. No mínimo 107 casos de paralisia aguda flácida causada pelo Enterovírus D68 foram relatados nos EUA.
Comentários: Observamos uma emergência cada vez maior de novas viroses, muitas delas graves. Uma das causas é a globalização com aumento da mobilização das pessoas em viagens, facilitadas enormemente nas últimas décadas. Outra causa é a nossa capacidade de identificação de agente. Algumas das doenças emergentes aconteciam, mas não tínhamos a capacidade de discrimina-las de outras doenças. A Enterovirose D68 num passado poderia ser diagnosticada como infecção bacteriana respiratória (como ainda deve ser) ou Influenza. Mais do que a emergência de novos vírus, estamos vivendo um paradigma, em especial no nosso conhecimento sobre as infecções respiratórias agudas. Antes diferenciávamos pneumonia bacteriana e viral não somente pelo tipo de opacificação, mas pela gravidade. Hoje percebemos que as viroses respiratórias podem ser graves, e sem exames laboratoriais mais específicos temos muita dificuldade para definirmos a etiologia mais provável.
O principal viés deste estudo é descrito pelos autores logo no início da publicação. Muitos dos estudos são retrospectivos, descritivos, com pequena amostra, desta forma selecionando para análise os casos mais graves. Ainda é muito cedo dizer qual é a proporção entre casos assintomáticos/leves e casos graves.
Este vírus ocorre principalmente no outono e início do inverno. Seu quadro clínico muitas vezes é indistinguível de uma IVAS causada pelo rinovírus. Os casos graves podem ser diagnosticados erroneamente como influenza ou pneumonia bacteriana.
Os principais pontos que devem ser extraídos são: a) Nosso conhecimento sobre infecções virais agudas está longe de estar esgotado, e alto grau de suspeita clínica deve ser mantido, para estabelecimento de medidas de barreira e notificação às entidades sanitárias; b) É necessário desenvolvimento da capacidade de identificação e diagnóstico sorológico. A desculpa de custo esbarra em situações éticas (finalidade principal dos serviços de saúde) e do custo causado pelo tratamento das infecções graves; c) aumento do repertório de vacinas.
Marcado:Enterovirus
Deixe um comentário