Resistência aos antirretrovirais na América Latina, 2016

Artigo: Surveillance of HIV Transmitted Drug Resistance in Latin America and the Caribbean: A Systematic Review and Meta-Analysis

Autores:  Santiago Avila-Rios, Omar Sued, Soo-Yon Rhee, Robert W. Shafer, Gustavo Reyes-Teran, Giovanni Ravasifoto_25112015111143

Local: Centre for Research in Infectious Diseases, Mexico, Clinical Research Section, Huésped Foundation, Buenos Aires, Argentina, Stanford University, Stanford, California, United States of America,  Pan American Health Organization (PAHO), Washington DC, United States of America

FontePLoS ONE 11(6): e0158560. doi:10.1371/journal.pone.0158560

Estudo: Os autores realizaram revisão sistemática sobre a resistência aos antirretrovirais  (ARV)em indivíduos naïve. Os artigos tinham que ter no mínimo 10 indivíduos, possuir a descrição completa, e abordar somente resistência adquirida.

Resultados:Foram selecionados artigos referentes ao Brasil (50), Mesoamerica (17), Cone Sul (16), Andes (8) e Caribe (7). O total de pacientes analisados foi de  11,441. A resistência foi detectada em 7.7% (IC 95%: 7.2%-8.2%). Os estudos abordados apresentaram características diferentes (Tempo de infecção, ano de realização do estudo).

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A incidência de resistência aos ARV foi parecida em todas as regiões, tendo aumentado nos estudos mais recentes, exceto na região Mesoamericana, onde houve decréscimo da resistência, especialmente aos inibidores de transcriptase reversa análogos (NRTI). O aumento da resistência foi basicamente alavancada pelos inibidores de transcriptase reversa não análogos (NNRTI), refletindo seu uso disseminado como droga de primeira linha.

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As mutações mais frequentemente associadas à resistência ao NNRTI foram K101E (p = 0.03), K103N (p<0.0001), G190A (p = 0.008). Já a redução de resistência aos NRTI foi relacionada à menor detecção de M184V (p = 0.03) e das mutações relacionadas à timidina (TAMs) K70R (p<0.0001) T215Y (p = 0.007). A resistência aos inibidores de proterase (IP) se manteve estável.

Os autores também avaliaram a prevalência dos subtipos de HIV, senfo mais frquente o subtipo B, sendo que no Brasil e Caribe, os subtipos não-B apresentaram importante expressão.

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Os autores fizeram considerações específicas sobre o Brasil. Os estudos mais recentes, abordando pacientes sem tempo de infecção determinado, mostraram aumento progressivo na resistência a qualquer ARV: 5.2% em 2007; 6.6% em 2007–2008; 12.2% em 2007–2011 e11.8% em 2009–2010. A resistência no Brasil é particularmente preocupante, e ocorre para as três principais classes de ARV. O maior estudo nacional mostrou 21,4% de resistência a pelo menos um ARV em indivíduos recentemente infectados. A região sudeste, em especial os estados de Rio de Janeiro e São Paulo foram aqueles com maior detecção de resistência.

Comentários: Uma meta-análise deste assunto é um assunto complicado. A resistência pode variar de acordo com o ano do estudo (evolução/seleção natural), características mais detalhadas dos pacientes, características regionais específicas, incluindo o programa de fornecimento de medicamentos. Ainda assim, os dados podem servir de uma luz inicial e são extremamente úteis para o desenvolvimento de políticas públicas.

A publicação é bastante extensa e detalhada, e por questão de síntese, alguns dados importantes foram aqui omitidos. A leitura desta publicação deve ser vista como essencial.

O aumento da resistência nos leva a algumas questões que sempre circulam nossa prática e nossos congressos:

  1. Devemos priorizar esquemas com maior barreira genética à resistência, como algum inibidor de integrase?
  2. Devemos estudar a diversificação de esquemas para diminuir pressão seletiva?
  3. Estamos fazendo o nosso dever de casa quanto à prevenção da contaminação e melhoria da adesão?
  4. Qual é o impacto da profilaxia pré-exposição na resistência?
  5. Devemos realizar genotipagem antes da prescrição de ARV em pacientes naïve?

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