Artigo: Protective effect of antibiotics against serious complications of common respiratory tract infections: retrospective cohort study with the UK General Practice Research Database
Autores: Petersen e mais
Local: Centre for Infectious Disease Epidemiology, Department of Primary Care and Population Sciences, London e Health Protection Agency, Centre for Infections, London
Fonte: BMJ 2007;335;982
O estudo: Os autores aproveitaram para um coorte retrospectivo o banco de dados inglês com 162 centros, de 1991 a 2001. Identificaram pacientes através de termos localizadores de diagnóstico e utilizaram como desfecho primário o desenvolvimento de complicações graves até 30 dias o diagnóstico da infecção das vias aéreas superiores (IVAS). Entre as complicações graves estão a pneumonia, mastoidite e abscesso peritonsilar (‘quinsy’).
Resultado: Os autores analisaram um total nada impressionante de 1.081.000 casos de IVAS.Os autores mostram benefícios com o uso de antibióticos, mas foram cautelosos o suficiente para explicar o efeito do imenso tamanho amostral, da baixa frequência de complicações, mas não deixaram de enfatizar que o benefício pareceu mais concreto na população de idosos.

Comentários: Este estudo é antigo, mas foi revisado porque: a) O assunto é extremamente relevante e a literatura escassa; b) Ele mostra as dificuldades em se trabalhar com medicina baseada em evidências e a necessidade de uma observação clínica sistemática e consistente.
Do ponto de vista metodológico é um desenho de estudo que já esteve mais em moda. Pega-se um banco de dados nacional com uma população astronomicamente grande a analisa-se. Com tal dimensão de tamanho amostral, é facílimo atingir a significância estatística, mesmo com efeito clínico (odds ratio) irrelevante. Por isto que a observação somente do valor de pode levar a más condutas. A dimensão do efeito deve ser igualmente observada.
Neste tipo de estudo, a fonte de dados é extremamente heterogênea. Os médicos de todo um país ou sistema de saúde, sem padronização de definições ou condutas.
Ainda assim este estudo é particularmente relevante. Porque observar a internação por pneumonia em 30 dias ou óbito é menos sujeito às intempéries da pressa ou da homogeneização de conceitos.
Apesar dos benefícios terem sido evidenciados em todas as idades, a baixa frequência de complicações em jovens não deixa dúvida, nem mesmo para os autores, que seria uma grande precipitação recomendar-se antibioticoterapia rotineira para IVAS. O mesmo não pode ser dito para os segmentos populacionais onde as complicações são mais frequentes.
Por que este estudo deve ser levado em conta?
Hoje temos começado a ver que infecções por rinovírus, vírus sincicial-respiratório, metapneumovírus e coronavírus de forma diferente. Não que indicaremos antibióticos para estas condições, mas são infecções não tão benignas quanto acreditávamos no passado. A pneumonia viral é uma sombra que ainda não clareamos em pacientes adultos, mas que parece ser importante em populações específicas. Já as complicações bacterianas das infecções virais parecem ser uma realidade, e no caso de uma população frágil, como a de idosos com graus mais adiantados de adoecimento ou dependência, não podemos aplicar de forma radical os mesmos conceitos que aplicamos nas populações mais jovens e hígidas.
Ainda que a evidência seja enviesada, fica muito difícil não se pensar num curso curto de antibióticos para pacientes idosos, fragilizados, com quadro de IVAS. É quando o juízo clínico somente se apoia na medicina baseada em evidências para dar um voo maior e oferecer o que de melhor conseguimos hoje.
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