Uma situação inusitada: antibioticoprofilaxia em crianças desnutridas

Artigo: Routine Amoxicillin for Uncomplicated Severe Acute Malnutrition in Children

Autores: Sheila Isanaka, Céline Langendorf, e mais

Local: Niger – Médicos Sem Fronteiras e OMS

Fonte: N Engl J Med 2016;374:444-53

O estudo: O estudo foi conduzido em quatro centros no Niger. O critério para tratamento domiciliar de desnutrição aguda foi: a)Idade entre niger-malnutrition-rates_rdax_260x160_9_497 6 59 meses; b) Peso de acordo com o teste Z (OMS 2006)<-3; c) circunferência braquial <115 mm (b ou c ou ambos); d) apetite suficiente para evitar internação; ausência de complicaçõesnque indicassem internação. As crianças foram randomizadas (1:1) sendo que o grupo teste recebeu amoxicilina 80mg/kg/dia por 7 dias, e o controle recebeu placebo. Os desfechos foram: primário: recuperação em 8 semanas; secundários: ausência de resposta em 8 semanas, transfer|ência para unidade de internação e óbito.

Resultados: Foram analisadas 2399 crianças(1199 no grupo amoxicilina e 1200no grupo placebo). A presença de infecções e culturas positivas no momento da inclusão foi semelhante nos dois grupos. Os resultados mostraram semelhança nos dois grupos para três dos quatro desfechos.

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Comentários: Parece estranho falar em antibioticoterapia em uma condição não infecciosa. Mas este é um assunto razoavelmente bem estudado, e há um risco ou presença de infecção em parcela destes pacientes. Cabe lembrar, não se trata de qualquer desnutrição, mas desnutrição severa aguda.Ao contrário de estudos anteriores, os autores não encontraram benefícios na recuperação nutricional das crianças ou redução de óbitos. No entanto, houve menor necessidade de internação das crianças.Os autores ressaltaram três pontos: 1) Foi surpreendente o benefício em somente um dos desfechos, a necessidade de internação. Consigo pensar em duas hipóteses: Provavelmente alguns destes pacientes apresentavam manifestações atípicas de infecção (ausência de febre) ou falta de recursos diagnósticos; 2) O tempo de internação foi semelhante nos dois grupos, apesar da maior taxa de admissão. Para os autores, os cuidados mais próximos mitigaram os riscos associados à não prescrição de amoxicilina; 3) Amoxicilina reduziu o risco de transferência para internação de crianças com gastroenterite, o que é um contrassenso, pois a maior parte dos casos pode ser atribuída a agentes virais ou parasitários naquele país. Após discutir as limitações dos estudos, os autores concluíram que, ao contrário de estudos prévios, não há benefício de antibioticoterapia em crianças agudamente desnutridas.

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