Artigo: Effectiveness of contact precautions against multidrugresistant organism transmission in acute care: a systematic review of the literature
Autores: C.C. Cohen, B. Cohen, J. Shang
Local: Columbia University School of Nursing, New York
Fonte: Journal of Hospital Infection 90 (2015): 275-284
O estudo: Meta-análise avaliando a efetividade das precauções de contato na prevenção de disseminação dos MDR. Foram incluídos artigos avaliando agentes multirresistentes (senso amplo) e precauções de contato.
Resultados: De 284 estudos selecionados, somente 6 eram minimamente avaliáveis. Todos analisando pacientes em UTI. Os MDR mais avaliados foram MRSA, VRE e bacilos ESBL+.Cinco dos seis estudos mostraram que as precauções de contato não diminuíam colonização. Uma das publicações, que abordou Acinetobacter, mostrou benefício (RR=0,5).

Comentários: O temor e as precauções recomendadas para prevenção da disseminação dos MDR são justificados. A situação é grave, implica em riscos para pacientes, custos e mudanças na rotina organizacional do hospital. A questão é (tentando tornar esta uma discussão menos emocional): o que fazemos é efetivo? Vale a pena deixar um leito bloqueado, indisponível, potencialmente negando acesso a um paciente que precisa ser internado?
A meta-análise, que não é a primeira sobre este assunto, e nem é a primeira mostrando a fragilidade das precauções, tem dificuldade de interpretação por não padronizar bem os desfechos (colonização, denominadores, agentes, etc). No entanto a literatura [é heterogênea neste aspecto, e a forma de compilação foi a possível, não a ideal.
O mais importante é saber que:
- A efetividade das precauções provavelmente é dependente da infraestrutura do hospital. Ela provavelmente terá resultados mais favoráveis quando os quartos forem privativos, as UTIs não foram grandes salões, quando o número (e treinamento) dos profissionais for adequado, não levando a sobrecarga de trabalho e perda de disciplina, e quando houver uma organização do trabalho, com supervisão e avaliação das práticas pelos próprios profissionais. Quando houver estrutura física inapropriada, superlotação, falta de profissionais ou ausência de organização, somente os resultados negativos serão obtidos.
- É importante quantificar o resultado (positivos e eventos adversos) para se tomar uma decisão a favor ou contra as precauções.
- Deve haver um cérebro por trás das decisões. Uma vez que o risco de colonização não depende somente do quarto privativo, e que o risco de adoecimento não é muito alto (1 a 5%), quando houver indisponibilidade de leitos, alguém capacitado deve tomar a decisão se precauções serão mantidas ou quebradas.
- Devemos abandonar o automático, muitas vezes cobrados por gestores e certificadoras, que o programa de precauções para MDR são obrigatórios e inquestionáveis, ou seja, que são pré-requisitos para a qualidade. Muitas vezes a avaliação sistemática, a discussão com cabeças pensantes e atitudes criativas funcionam melhor do que listas de tarefas pré-definidas e sem sentido nem discussão anteriores.
Muitas vezes, em situação de endemicidade elevada, onde a redução da transmissão é difícil ou vislumbrada a longo prazo, as medidas devem mudar de foco: ao invés de priorizar a redução da transmissão, pode ser mais interessante aumentar os esforços para a prevenção de adoecimento dos colonizados.
Marcado:ccih, Infecções hospitalares, MDR, Precauções
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