Antibioticoterapia curta em infecções intra-abdominais

Artigo: Trial of Short-Course Antimicrobial Therapy for Intraabdominal Infection

sawy_oa1411162_thumb_111x111Autores: R.G. Sawyer, J.A. Claridge e mais

Local: University of Virginia Health System -Multicêntrico EUA e Canada

Fonten engl j med 372;21

Estudo: 518 pacientes com diagnóstico de infecção intra-abdominal complicada (IIAC) e controle adequado da fonte foram randomizados em dois grupos: Controle (antibióticos até 24após paciente ter ficado afebril, sem leucocitose e com resolução do íleo, duração aceitável até o máximo de 10 dias), ou experimental (até 4 dias após a intervenção cirúrgica). A antibioticoterapia não foi padronizada, mas só foram incluídos pacientes cujos esquemas estivessem em consonância com a recomendação da ISDA. O desfecho primário foi uma composição de infecção de ferida cirúrgica, infecções recorrentes ou óbito.

Resultados: Um total de 518 pacientes foram randomizados. O grupo experimental utilizou em média 4 dias de antibióticos, e o controle, 8 dias. Os eventos pós-operatórios (composto ISC/doença recorrente/óbito) ocorreu em 22,3% no grupo experimental e 21,8% no controle. A ausência de diferenças entre os grupos percebidas nos resultados se mantiveram nas seguintes sub-análises:

a. Análise de cada evento adverso individualmente;
b. Análise de diversos subgrupos (Modalidade de controle da fonte, apendicite, infecção hospitalar, etc.
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Comentários: Todo estudo avaliando antibioticoterapia de infecções intra-abdominais possui certos viés inevitáveis que devem ser levados em conta no momento de sua interpretação:

– A definição de infecção complicada não corresponde à utilizada na prática. Durante certo tempo, o FDA recomendou que fosse qualquer infecção que demandasse intervenção cirúrgica. Muito diferente da utilizada neste artigo, que define como a infecção acompanhada de febre, leucocitose ou disfunção do hábito intestinal, ou necessidade de intervenção cirúrgica.
– Diversidade de origens. Uma pancreatite é completamente de uma apendicite, por exemplo. Protocolos de avaliação de novos antibióticos em geral incluem a apendicite ou colecistite sem sepse ou peritonite como principal patologia dos estudos (85 a 90% dos casos).
– Diversidade de esquemas. Como a eficácia dos antibióticos é variável, a falta de padronização dos mesmos pode ser um viés.
– Controle da fonte: variabilidade do tipo de operação demandada, técnica operatória, órgãos abordados.
É muito importante conhecer estas limitações porque muitos dos estudos avaliando IIA não conseguem ser conclusivos, por melhor desenhados que sejam, quando falamos de pacientes com infecções graves, diferente daqueles com infecções “complicadas. É possível que um antibiótico aprovado para tratamento de infecção complicada não tenha a mesma eficácia quando usado em pacientes graves.
O mesmo se aplica neste caso. As infecções mais graves merecem uma cautela, e podem ser marcadas por presença de sepse, dificuldade de estabilização, dificuldade no controle da fonte ou, eventualmente, presença de hemocultura positiva. A análise de subgrupos neste estudo dá algum grau de segurança que provavelmente esta estratégia é segura em diversas condições.
De toda forma, o artigo mostra o que insistentemente a literatura aponta: utilizamos antibióticos em pacientes cirúrgicos por mais tempo do que o necessário. Recomendações a respeito deste assunto são antigas, a começar por um importante suplemento da European Journal of Surgery publicado em 1996. Fica muito claro que uma avaliação clínica judiciosa apresenta resultados finais mais satisfatórios que durações fixas de antibioticoterapia.

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