Clostridium difficile: o inimigo em casa

ArtigoClostridium difficile infection in the community: a zoonotic disease?

Autores:  M. P. M. Hensgens, E. C. Keessen e mais

Local:  Australia e Holanda

FonteClin Microbiol Infect 2012; 18: 635–645

O estudo: Os autores revisaram sistematicamente a literatura referente a diversas fontes de aquisição da doença associada ao .C.difficile  (DACD) na comunidade.

Resultados:  Os resultados mais marcantes são
– A DACD de origem comunitária ocorre em pacientes mais jovens, mesmo sem uso de antimicrobianos (em um estudo, somente 36% dos pacientes). Os autores citam associação com doença péptica, algo que hoje sabemos que possivelmente está associado ao uso de inibidores de bomba ou eventualmente a outros medicamentos que alteram o pH do estômago.

– Os ribotipos mais associados à doeça de origem comunitária foram o 078 e o 001, já nas infecções nosocomiais foi o 027.

Relação com animais domésticos: 39,5% dos cães e gatos atendidos em clínicas veterinárias são portadores da bactéria e 40-75% das amostras ambientais são positivas. Os ribotipos podem ser diferentes daqueles comuns em doenças humanas, mas em pelo menos um estudo o ribotipo mais prevalente nos animais foi o 001.Evidências circunstanciais também apontam coincidência entre cepas animais e causadoras de doenças em humanos. Adicionalmente, cães cujo proprietário é imunodeprimido, ou cães que visitam hospitais têm maior probabilidade de serem portadores.  As evidências não são conclusivas, mas fortemente indicativas de associação de doença comunitária com animais portadores da bactéria.

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Contaminação ambiental: Os esporos do C.difficile são importantes na dinâmica da transmissão, e podem sobreviver por meses. A recuperação de esporos, inclusive de cepas toxigênicas foi detectada em fazendas com criação de porcos, e em ambientes onde há portadores saudáveis ou particularmente doentes (DACD).

Contaminação de alimentos: Há evidência de contaminação de carne processada. Com menor frequência, peixe e vegetais, mas não leite e derivados. Apesar do potencial infectivo, a associação está muito menos evidenciada neste tópico.

Comentários:  Este artigo de 2012 é relevante não só porque esta doença hoje tem uma forma, uma variante comunitária, mais complicada  e não relacionada ao uso de antimicrobianos. Basicamente porque a epidemiologia e os reservatórios são diferentes daqueles observados nas infecções habituais do trato gastrointestinal. O que ressalta nesta revisão não  é só a diferenciação da epidemiologia da DACD quando comparada a outras infecções, mas a inclusão de animais domésticos como possíveis reservatórios. O grande problema envolvido não é ofato de se conviver com animais domésticos, realidade que existe há milênios, mas a forma íntima como temos tratado estes animais, humanizando-os. Temos que repnesar nossas novas práticas higiênicas com eles.

 

Bibliografia adicional (riscos associados aos animais domésticos):

 

RABINOWITZ, GORDON, ODOFIN – Pet-Related Infections. Am Fam Physician 2007;76:1314-22.

Luca Guardabassi, Stefan Schwarz e David H. Lloyd – Pet animals as reservoirs of antimicrobial-resistant bactéria. J. Antimicrob. Chemother. (2004) 54 (2): 321-332.

 

 

 

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